Dinário Galega era um homem revolucionário: gostava de usar meias pretas com sapato marrom. Pela manhã, ia caminhando para o trabalho e fazia caretas para os outros como quem diz: - Bom dia!
Não se permitia rotina, não almoçava no horário, não assinava o ponto.
Dinário Galega chorava com o entardecer e se irritava com pequenas coisas como esperar o elevador. Detestava a xérox, o Ibope e a impressora. Tinha medo de dentista, de sinal fechado e de política externa.
Guardava uma coleção de tampinhas de refrigerante para se lembrar que adoçante, corante e acidulante definitivamente não podiam fazer bem à saúde.
Ganhava o dia com um brinde, desses que a gente recebe em mercearia como troco.
Dinário Galega acreditava que os sonhos podiam virar realidade e que os pesadelos eram uma tola produção do imaginário.
Não tinha carro do ano, usava bicicleta. Admirava os que sabiam andar de patinete e fazer bolas com o chiclete.
Dinário Galega desenhava torres, luas e estrelas nos rodapés dos Memorandos que entregava ao chefe com um sorriso tímido. Vez ou outra, levava uma bronca. Vez ou outra, uma repreensão. Vez ou outra, um comentário debochado. Mesmo assim, continuava com o costume.
Dinário Galega, no entanto, sentia saudades daqueles que já morreram – em vida ou não. Em especial, sentia muita pena dos que já havia matado. Nesses dias de perturbação, Dinário dançava para ver se o movimento fazia efeito e a chuva chegava como purificação.
Um belo baile de se assistir, aliás.