Monday, January 08, 2007

CLASSIFICADOS

Moreno, 26 anos, estável. Procura moça intergalática que não tenha mania de limpeza. Favor enviar e-mail por carta. Não aceitamos contatos às quintas-feiras. Permitimos todos os cartões, exceto os de crédito. Não é um happy end, mas daremos o nosso melhor, obrigado.

DE COMO EU CONTINUO A NÃO ACREDITAR NAS COISAS

Mais uma vez, enviei minha cartinha ao Papai Noel.

Dessa vez, ele me deu uma casa.

Chego à conclusão de que Papai Noel, pessoa com certa idade, tem sérios problemas na vista.

Pobre bom velhinho...

EM 2007, ASSIM COMO NOS OUTROS ANOS

Entrevista com Damus:

(O Editor optou por utilizar as anotações do repórter, sem cortes. O repórter, por sua vez, aceitou, porque emprego está difícil esses dias.)

- Anote aí, está comprovado: nenhum astro quer a autoria desse ano; nem os astros do céu, nem os da Terra.
_ Os da Terra?
- Sim, os da Terra, desses que vocês colocam nas capas das revistas e que passam a seguir como se fossem deuses. Pois bem, nenhum dos astros desejou a autoria desse ano. Ou seja, o ano é dos homens!
- E isso é bom ou é ruim?
- Isso é bom e ruim. O que não é bom, e nem ruim. E nem ruim, nem bom.
- Tá. Alguma boa previsão, então, para começar?
- Sim, claro! Muitos nascerão, muitos irão amar pela primeira vez, outros, irão perder pela primeira vez, assim como outros, irão ganhar pela primeira vez! No entanto, alguns serão tão otimistas que irão tirar algum proveito disso, outros, por sua vez, irão se trancafiar a noite toda em seus quartos chorando como se não houvesse mais saída. Com alguma sorte - apesar d'eu não acreditar nessa ladainha de sorte, hehehe - eles irão levantar a cabeça, suspirar, seguir o seu dia com esperança - nessa sim, eu acredito - e fazer algo de produtivo e com alma disso tudo. De outra forma, bem... De outra forma, não. Mas, é lógico que eu fico triste quando algo disso acontece, e vemos tanta energia desperdiçada...
- Tá. E quanto às previsões ruins?
- Os percevejos, as baratas e os mosquitos continuarão andando livremente pelo mundo. Deus é um sujeito bem sacana, com o perdão da palavra - embora eu também não acredite nele, diga-se de passagem. Mas, com alguma sorte - olha ela novamente! - inventarão um inseticida decente.
- Tá...

(Silêncio perturbador)

- O Senhor tem alguma coisa a acrescentar? Alguma coisa que eu esqueci de perguntar e que considere interessante?
- Sim! Sobre você!
- O quê que tem eu?
- Você, assim como nos demais anos, continuará sem dinheiro nenhum, meu caro.

(Silêncio pertubador mais uma vez)

- Bem, obrigado pela entrevista.
- Não há de quê, meu querido. Estamos aí para servir.

(P.S. do repórter: Damus tem o sorriso mais cretino que já vi em toda a minha vida!)

FAZENDO AS PAZES

O escondido bate à porta:
- Vim exigir a minha fatia. Tudo muito bonito, tudo correndo bem... Mas eu tenho memória boa e hoje fazem dez anos... não é verdade?
- Sim, sim, é verdade.
- Pois bem. Eu me lembro de você chorando, a menor de todas na Avenida, assim como me lembro das promessas naquele fim de tarde. O tempo é o mais irônico de todos, não é verdade?
Ele nos embriaga, tudo vai ficando tão distante, perdendo a importância, mas eu me lembro, eu assisto como se tivesse sido hoje, eu me lembro... bem, eu me lembro que você sentiu, e sentiu forte, pesado, cru, não é verdade?
- Tudo certo.
- Era eu, você sabia?
- ?
- Pois era eu. E, para ser sincero, não gosto nada da roupagem que você me deu. De ficar escondido de, na maioria das vezes, não poder ter voz. Vamos fazer um acordo?
- Diga, quem sabe...
- Você me deixa falar?
- Você promete que se comporta?
- Você promete que não me regula?
- ...
- Ora, vamos, eu sou educado...
- ...
- Ora, vamos, eu também tenho direito à minha parcela de ganho...
- Tá bom, mas não faça com que eu me arrepende...
- Me dê sua mão. Agora, vamos juntos, e de frente.
- Tudo bem se eu sentir um certo medo?
- Me surpreenderia se não fosse assim. Aliás, eu não me interessaria se não fosse assim.
- Bem, então... vamos!
- Vamos!
E se passaram dez anos em um segundo.
O frio na espinha, até o momento, é a melhor sensação de toda uma existência.