Friday, November 17, 2006

ESTAÇÃO

Acorda todos os dias às 04:30 horas e segue no silêncio do restante da casa. Leva na marmita o almoço que a mulher preparou no dia anterior com carinho. Antes de sair de casa, beija os filhos com o olhar.
Quando chega à estação, se dirige à casa de máquinas. Sente o ar quente que a sala expira. “Pronto. Mais um de trabalho, graças a Deus.” Cumprimenta os companheiros: “Vamos a luta, porque só quem tá vivo trabalha.”
Parte o trem, ligando uma estação à outra.
Os trilhos levam vidas e caminhos. Coisa engraçada esse tal de destino, sujeitinho leva-e-traz.
É um dia ensolarado de primavera, desses que alegram os olhos e fazem o rosto sorrir, mesmo quando ele não quer.
Dá gosto ver a estrada desse jeito: a terra tem cheiro de casa; a máquina e os passageiros são um corpo só.
Em viagem agitada, se permanece no vagão. Em viagem tranqüila, como essa, pode-se permitir um passeio pelo trem.
O moço de terno está mais uma vez conosco. O moço de terno mais uma vez fuma olhando a janela. O moço de terno mais uma vez não repara quando eu passo ao seu lado. Nossa, como envelhece esse moço.
Já está quase na hora do almoço e, na verdade, pouca fome é o que há.
A estrada se diverte mais uma vez e acena com sua brisa: vento bom, de novidade. Novidade quase sempre tem cheiro gostoso, como de bolo recém-saído do forno.
A outra estação se aproxima, de acordo com o quê conta o barulho dos bancos, das malas, dos sapatos e das vozes. É melhor voltar para o meu lugar, fiscal nunca é muito simpático à observação.
“Boa tarde, senhores. Sejam bem-vindos.”
Na outra vida eu quero é nascer passarinho, desses que cantam com tanta vontade que o peito até incha.